na Folha de hoje

li o texto abaixo na Ilustrada e compartilho a idéia do autor.
a Virada Cultural foi bacana ? sim.
isso permite uma "revitalização" do centro ? não é bem assim....
leiam e discutam.

O paulistano não retomou o centro de SP
Uma da manhã, e a rua do Tesouro explode. Em música? Não. Em mijo. Para atravessar a travessa do centro, é necessário desbravar um fedorento mar de urina. Sim, estamos na Virada Cultural.
O evento que alardeia "permitir a volta de pessoas afastadas do centro". E elas voltam. Toda a diversidade paulistana de estilos. Cada um na sua programação, no seu canto. Todos unidos pela mesma atitude.
A retomada do Centro? Não. A atitude de carregar garrafas PET turbinadas de birita. Usufruem a seu modo. Nossa ilustre classe média, por exemplo, diverte-se com o turismo exótico. O barbudinho uspiano me pergunta onde fica a rua Direita. Na esquina da própria. A jovem, na Ipiranga, ironiza: "Parece Réveillon na Praia Grande". Mais cultural, impossível.
Já na República, o cabeludão Kreator indaga ao amigo: "Rolou a gorfada?". Rolou. E todos seguem, deixando marcas de sua retomada do centro. Garrafas vazias, "gorfadas". Sim, estamos na Virada. É legal e democrático? Sim. Faz o paulistano "retomar o centro"? Nem de longe.
Isso, de fato, só deve acontecer hoje. Quando o mendigo que fez uma barricada de caixotes na Sete de Abril, a fim de dormir em meio àquela balbúrdia, acordar. E, aliviado, reencontrar sua cidade.

GUSTAVO PIQUEIRA é designer e autor do "Manual do Paulistano Moderno e Descolado" (ed. Martins Fontes)

caco galhardo