: Diz-se de criança irrequieta e traquina, que não está quieta um só momento.

Friday, October 09, 2009

as cinzas de quarta



Dormindo num colchão embaixo da mesa da sala do cunhado, procurando incansavelmente apartamento, descobrindo qual ônibus pegar. Emprego novo, amigos novos, problemas novos.
Foi assim quando cheguei.
Faz alguns anos já que estou em São Paulo e gosto um bocado dessa cidade. Um belo bocado, eu diria.
Tanto que vou bem pouco pra Sanja, quase não sinto falta.
Parece que sempre fui daqui, de lugar nenhum.
Me viro super bem....adoro fazer algumas coisas sozinha, gosto desse anonimato, dessa coisa frenética, das diferenças. Acho adequado.
De descer a Consolação como se fosse um barco que segue a correnteza, de pegar o Elevado só pra ficar reparando nos prédios decadentes e imaginar como era aquilo, de descer a pé até a Roosevelt observando o detalhe da placa da padaria dos travecos, de subir a Augusta pra comprar um disco no Neto. Gosto daqui.
E quase não percebo o que muita gente fala, que é essa coisa gigante que te esmaga, o egoísmo, cidade cinza, é muito perigoso, ninguém liga pra ninguém. Hummmm.
Acho que, assim como em outras situações, a gente vê o que quer ver. Nesse caso, penso que é bastante divertido pedalar no Elevado domingo, ver as estreias mais incríveis do cinema, experimentar restaurantes bacanas...
Mas, para que eu não me estenda nisso (já que poderia ficar horas citando o que me agrada), a questão é que anteontem fiquei em casa, de cama. Não estava passando bem.
E me deu uma sensação tão ruim, uma solidão tão ameaçadora. De estar sozinha aqui nessa bagunça toda.
Acho que queria alguém que me fizesse um chá, me colocasse um cobertor nas pernas, fizesse uma sopa ou ao menos me perguntasse, excessivamente, como costumam fazer as mães, se eu estava melhor.
Sim, amigos ligaram. Sim, aquilo não era uma crise de labirintite. Sim, sei que posso contar com pessoas mais que queridas aqui, mas não era isso.
Acho que era o silêncio recorrente do dia, a chuva que veio pra coroar, o chá feito por mim mesma. Minha mãe há mais de 100 quilômetros.
Gustavo me diz que sou romântica e, sinceramente, acho que ele tem razão.
Não nesse sentido gasto que atribuem à palavra, de casamento, de frufru, do pra sempre, de chiliques, da utopia e todo o blábláblá. Não, pra isso não tenho paciência.
Mas no sentido das coisas doces mesmo.
De pessoas sensíveis, do cuidado, do detalhe do dia-a-dia.
E talvez eu _essa menina que adora a cidade grande_, ainda não tenha reparado que às vezes é mesmo difícil peneirar tudo isso ali, cruzando a Paulista.

*ilustra por CTT