: Diz-se de criança irrequieta e traquina, que não está quieta um só momento.

Friday, July 17, 2009

a dor e a delícia

Essa semana tava jantando com dois amigos muito queridos e estávamos falando sobre relações. Na verdade, eles estavam questionando meu jeito de levar a coisa toda depois da separação. Ou seja, de ser amiga dos caras com quem dividi algo. Seja o teto ou a ternura.
E eu disse que não conseguiria ser diferente. Que tenho sorte de me envolver com homens bacanas e seria injusto que eles saíssem da minha vida quando a relação chega ao fim.
Seja pra consertar o varal, me dar uma dica de filme, ensinar uma receita, ouvir minhas lamúrias, apresentar um som novo, dar uma bronca, enfim, quero por perto.
Mas é tudo fácil assim, Fabi ?
Claro que não, é um processo que precisa ser trabalhado. E eu me esforço nisso porque acho que vale a pena.
Aí, falando em processo, lembrei do Bruno, outro amigo fofo. Ele me disse que meu texto que mais gostava era o que eu tinha escrito quando estava me separando do André.
Fui reler e realmente o sofrimento é um bom ingrediente.
Prova de que às vezes, sim, amor rima com dor. Mas não precisa ser pra sempre, como já diria Vinícius.
Vou tomar a liberdade de ser excessiva e postá-lo novamente (originalmente foi escrito em novembro do ano passado).
Com carinho, para Márcio, Mateus e Bruno.

Pássaro

Essa semana tem sido um bocado estranha pra mim. Uma semana de despedidas, de nó no peito, de dividir livros e sentimentos.
De abrir caixas e fechar o coração.
De olhar pela última vez a paisagem do quarto, a configuração da sala, os adesivos na porta da cozinha.
De recolher as roupas do varal e também as migalhas que ficaram ali, esparramadas por cada canto dessa casa.
São restos de amor, de história dividida, de risadas, de conversas embriagadas, de delicadezas, de decepções, de corpos suados, de êxtase, de silêncios intermináveis, de dúvidas, de promessas, de felicidade.
Hoje, migalhas. Ontem, plenitude.
Hoje, estrangeira. Ontem, nativa.
Uma semana estranha.Não é minha estréia em separações, mas acho que é a primeira vez que vejo o amor me dar um adeus tão sensato.
Talvez a estranheza seja porque nunca associei amor e sensatez.
O choro vem fácil, a todo momento. Lágrimas tristes mas também leves. Leveza por ter me arriscado, sempre. Por ter tido coragem, sempre. Por querer sempre a plenitude, nunca as migalhas.
Então ao me ver recolhendo os cacos do amor, espalhados e esquecidos em cada pedaço desses 70 e poucos metros de objetos e lembranças, me vem Paulo Mendes Campos, que diz que é "terrível o horror de amar sem amor como as feras enjauladas".
É isso.
Tento, assim como esse amor que se despede, ser sensata.
Mas vejo que soaria falso demais, não-fabiana demais.Então me jogo, choro, recolho, danço, exorcizo, embriago e rio.
Limpa.
Tentativa de voltar a ser uma fita k7 pronta pra ser regravada. Com histórias bonitas e outras nem tanto. E que poderá (e será) regravada muitas outras vezes.
Sempre procurando ser uma fita com belas canções de amor. E que, por serem belas, são tristes. E intensas, como eu. Que venha a próxima trilha.