: Diz-se de criança irrequieta e traquina, que não está quieta um só momento.

Tuesday, April 07, 2009

sobre dias não tão bons

Teodoro Sampaio, último sábado, sete e vinte da noite.
Fome e saco cheio do trânsito lento.
Pensando na quiche e no vinho que estavam no meu trajeto quando, pow, cacetam minha traseira. Minha não, do meu carro.
Nada grave, a não ser as três horas na delegacia, num sábado à noite, de barriga vazia.
Nada grave. Ahã.
E aí um cheiro vindo do inferno decide aparecer em casa.
Nenhuma mancha no teto, nenhum vazamento, mistério.
O cheiro do ralo. Mutarelli deve estar orgulhoso de fazer escola.
Chama o síndico, encanador, zelador, o escambau. E o cheiro lá. Decido deixar ele ir embora por livre e espontânea vontade, já que é impossível saber a origem desse filho da puta.
Segunda, redação, onze da manhã.
Pauta caiu, matéria ficou ruim, entrevistado não foi, o programa está atrasado, toda a emissora decide me chamar no rádio ao mesmo tempo, não consigo nem uns segundos pra fazer xixi.
É tipo um teste, é isso ?
Indo embora, entro no carro, o pára-choque dá uma olhadinha triste pra mim.
Já em casa, abro a porta, o cheiro (mais fraco, mas ainda lá) me diz : olá, como foi seu dia, com ares de quem está zombando da minha pobre condição.
Tomo banho com sal grosso, mentalizo coisas boas, foram só uns dias ruins.
Tento exercitar meu lado zen, mas logo fico de saco cheio dele.
Coloco roupa na máquina e do banheiro ouço o som de uma cachoeira.
Curiosa com o barulho, penso que nada mais pode acontecer. Me engano. O tanque, entupido, transborda ao receber a água que a máquina vomita.
Seco a área de serviço, rodo, pano, mau humor, plóc, plóc, reativo o velho e bom desentupidor, vontade de chutar a máquina. Me controlo.
Abro o vinho, pego minha revista. Sinto que minha sanidade está voltando.
Como numa novela, penso em cenas do próximo capítulo e fico com medo.
Como uma boa chata, relembro os acontecimentos dos últimos dias com muito otimismo.
Chego à conclusão que, sim, poderia ser muito pior : eu ter me machucado no acidente, precisar andar de guarda-chuvas e galocha dentro de casa por conta do esgoto pingando, ter um ataque cardíaco no meio da redação (sem tempo de ser socorrida), minha máquina não funcionar mais, um pombo ter me acertado logo depois do banho, eu não ter discos e livros pra me socorrer, trabalhar na Páscoa, não receber coisas desse tipo http://www.youtube.com/watch?v=gjMoWzciYqE, ihhhhhh, tanta coisa.
É, pensando agora, meu lado brega-otimista-nãofoinada, diz : é isso mesmo, nada grave.