: Diz-se de criança irrequieta e traquina, que não está quieta um só momento.

Friday, December 26, 2008

fabi por dezoca - parte 2

As mesas em todos os ambientes da casa estavam lotadas. Eu poderia passar a noite inteira naquelas poltronas. Caetano não sobreviveria `a minha crise nostálgica e existencial. Eu falaria a noite inteira na Dona Clara. Ele saiu rapidamente atrás da Fabi, quando ela descolou uma mesa pra gente no bar novo. O lugar estava reservado para o aniversário de um amigo dela.
Caetano se divertiu com as camisetas dos garçons. Elas são pretas e nas costas trazem duas mãos que simulam um abraço e parecem de verdade. Então, quando a Fabi passava, parecia que ela andava com alguém dependurado. 
Caetano ainda recebeu amigos super simpáticos, de Manaus, na nossa mesa. 
Enquanto conversávamos, observava o vai e vem da Fabi.
Fabi no balcão:
- Gato, duas caipirinhas, por favor.
Gato era o barman.
Fabi ia em direção ao jardim com uma bandeja na mão. Voltava com copos vazios. Saia de novo com as caipirinhas. Voltava de novo. Ai, meu Deus, essa bandeja está muito cheia. Como ela consegue andar naquelas pedrinhas sem derrubar nada no chão? E ainda por cima dar atenção a todos os amigos que foram vê-la?
Depois de algumas horas, eu havia tomado várias caipirinhas de saquê, comido vários petiscos deliciosos. Já tinha revelado segredos inconfessáveis ao Caetano. Fabi, mesmo tomando umas e outras com os outros garçons, todos escondidos atrás do balcão, andava pra cá e pra lá sem demonstrar nenhum sinal de cansaço. Sem cair em nenhuma cantada barata dos clientes mais ousados. Eu jamais conseguiria uma performance tão perfeita.
Fabi incorporou uma personagem. Criou um papel para si. Servir as pessoas foi uma forma de se ver refletida no outro. De enxergar o outro e a própria vida de uma maneira diferente. E, principalmente, um jeito irreverente de se divertir com a loucura dos outros.
Porque, é claro, loucos são os outros!

fabi por dezoca - parte 1

Fabi é produtora de um dos melhores programas da televisão brasileira. Ela é também uma das pessoas mais legais que eu conheço. Sem contar que temos as mesmas idéias sobre muitas coisas. Em dezembro, Fabi decidiu fazer um frila diferente. Ela virou garçonete no Drosophyla. E relatou as novas experiências no blog Fervilheta, um dos meus favoritos aí do lado.
Eu nunca tinha ido ao Drosophyla. Shame on me! Porque o lugar tem a minha cara. A cara da Fabi. A cara de muitos dos meus amigos. E foi com um deles, o Caetano, que eu combinei de encontrar lá. Queria ver as pernocas da Fabi correrem para lá e para cá entre as mesas. E checar de perto se ela é tão boa garçonete quanto jornalista.
Caetano diz que eu "faço a fina". Que também é o motivo pelo qual meus colegas me chamam de França. 
Então França fez a fina, entrou no lugar cumprimentando as pessoas.
- Boa noite, boa noite a todos...
Resultado, fiquei sem comanda. Sei lá quem o cara na entrada pensou que eu era. Só descobri que eu deveria ter uma comanda quando já estava confortavelmente instalada no bar e pedi a primeira caipirinha de saquê da noite. 
O garçom perguntou:
- Como assim, você está sem comanda?
Entrei e adorei o que vi. Eu amo decoração de brechó. Objetos coletados em diversas partes do mundo pelas donas do lugar. O Tamburim, um siamês, veio me receber. E me levou direto até duas poltronas que ficam na saída para o jardim. Ele sentou numa e eu na outra. Comecei a chorar. Os móveis eram iguais aos da minha professora de piano, Dona Clara.
Quando penso na Dona Clara, sinto uma tristeza infinita. Eu tinha nove anos quando comecei a ter as primeiras aulas. Ela me ensinou a amar a música sobre todas as coisas. Me ensinou também gostar de televisão. O programa favorito dela era "Almoço com as estrelas". Era o máximo!
Dona Clara morreu sozinha, num asilo. Não pude fazer nada por ela. Fico pensando se ela morreu deprimida, se alguém a deixava ver a novela das seis pra se distrair. Ou se ainda amava a música sobre todas as coisas e morreu ouvindo algum estudo de Bach.
Tamburim veio pro meu colo. Acendi um cigarro, pra me acalmar.
Caetano fez uma foto da cena, logo que chegou.
(to be continued )

début

O ano vai dando adeus, são seus últimos dias de vida. E 2008 foi um colosso pra mim. Descasei, fui garçonete, mudei de apartamento, chorei mais que a média (em ml. de lágrimas), encontrei pessoas bacanas demais, ganhei kits de bolhas de sabão, conheci Pirandello (ave !), bebi mais que a média (em ml. de álcool), me joguei com força na correnteza, beijei algumas bocas (e outras deixei passar), descobri a Estrela da Roosevelt, ganhei um carrinho de rolimã (valeu Mi e Diego, queridos !).
Foram 12 meses de grandes mudanças, drásticas mudanças, boas mudanças. Não posso reclamar.
Se eu fosse fazer, assim, um apanhado de tudo, diria que saí ganhando, que o ano que se vai foi um bocado generoso comigo. 
Pelo número de acontecimentos parece que foram muito mais que 365 dias. Como eu consegui não me afogar ? Como meu coração resistiu (e sem maracujina, hein, Cris ?) ? Não sei.....mas 2009 tá aí, me jogando na cara que eu não arreguei. E que tem mais. 
Ano que vem quero fazer mais trocentas coisas (entre elas ser backing vocal da banda do Alê, de covers do Fagner), mas, pôxa, Fabiana, até que sua vidinha tá indo muito bem, obrigada, não ?
É como quando você começa a beber, sabe ? Fala que vai ser só um copinho, brigada, tô tranquila. Mas depois que pega o jeito, vai embora. Foi assim comigo. Ah, tá tudo bem como está, calmo, deixa quieto, vamô que vamô. Mas e depois que o vento tira as coisas do lugar ? Você reorganiza do jeito que tava ou aproveita e troca a configuração ?
Eu mudei os lugares. Dos móveis, dos sentimentos, das certezas. Eu aceitei mais um copo e outro e outro. Peguei gosto e agora não quero mais parar.
Quero chuva forte, nada de garoa. É preciso mais conhaque no café com leite. O rock tem que ser mais alto, o livro mais grosso, a noite mais longa, a cozinha mais perfumada, o coração mais aberto em 2009. Que chegue logo então, que eu tô louca pra estrear.