: Diz-se de criança irrequieta e traquina, que não está quieta um só momento.

Tuesday, February 02, 2010

sem verbo pra gastar


Desci no mesmo elevador que ele. De novo, ruborizei. Pensei, elucubrei, imaginei, tudo isso em segundos. Sei lá quanto demora a viagem do quinto ao térreo, mas foi bastante tempo pra mim.
Oi, gosto muito do seu trabalho. Genaro. Nossa, Ary, Durval Discos é demais. Hummm. E aí, tá em algum "projeto"(artista adora essa palavra) novo? Péssimo, Fabiana.
É que há meses descobri que moro no mesmo prédio que o Ary França. Sim, antes que perguntem quem é, é o Durval do filme. Sou bem fã dele. Como dizem Chico e Gustavo, sou a quarta fã dele. Ok, ele não é mesmo tããão famoso, mas acho uma figura. Na verdade fico pensando que o cara é o Durval Discos, mas pelo jeito dele nas ínfimas duas vezes em que dividimos o elevador, ele não pareceu lá tão animado assim.
Enfim, o que me martela é não conseguir abrir a boca. Pôxa, eu já fiz isso outras vezes. E, em algumas, me dei bem.
Como quando pedi ao Nelson Leirner que autografasse um livro do Neruda que eu estava lendo. O desespero, uai, pra não perder a chance. Depois disso fui convidada pelo próprio a ir à vernissage dele, que ocorreria no dia seguinte. Fui tratada a pão-de-ló e espumante a festa toda.
Quando quase atropelei a Catherine Millet numa ruela de Parati no ano passado, mal conseguindo balbuciar meu nome, e recebi uma das dedicatórias mais supimpas do Universo.
Ou mesmo tomando uma cerveja na mesma roda que o Peréio e o Mutarelli. Ou divindo pingas com Xico Sá (leve decepção pelo número incontável de besteiras disparadas em uma única madrugada).
Também ganhei um guardanapo do Lanny Gordin, com um coraçãozinho que ele desenhou depois do show. Breguinha, adolescente, mas fofo, porque afinal era o Lanny Gordin.
Com o Miele fui mais burra. Nervosa, pedi a ele que me passasse o adoçante, aqui na lanchonete da TV. Me arrependo até hoje. Queria que ele contasse sobre o Beco das Garrafas, pôxa. Adoçante? Inadequado, Fabiana, inadequado.
Pra certas figuras nem ligo, não me dizem muito, mas já conheci, por exemplo, o capeta em forma de guri. E chamei o Alfredo, que é fã, pra fazer glu-glu. Fui parada por um poste, saindo da redação. Subi o olhar e era o Sérgio Reis. Pediu desculpas e tirou o chapelão. Tomei café por dias seguidos ouvindo o falatório do João Gordo. Passa batido.
Não sinto vontade de falar nada pra essas pessoas, como sinto, por exemplo de falar pro Ary (reparem na recém-adquirida intimidade).
Fico matutando o que seria adequado dizer, o que não causaria constrangimento (ou um constrangimento menor, já que a situação por si só já é ridícula), se o cara é mal-humorado, em que andar ele mora, gosta da rua, Ary ?
Enquanto não me vem uma luz sobre como acabar com essa tortura-boba-fanática, rezo todo dia para que o Durval não esteja no elevador quando ele parar no meu andar. Aí, sim, viagenzinha tranquila até o térreo. Ufa.

*ilustra por CTT