: Diz-se de criança irrequieta e traquina, que não está quieta um só momento.

Monday, March 16, 2009

estrangeira e nativa

Essa não é a primeira vez. Estrangeira na minha própria terra, na cidade onde nasci e morei por vários anos.
Sábado, ainda febril, corpo dolorido, vontade zero de deixar a cama, peguei o carro e fui pra Sanja.
O motivo era mais que nobre : aniversário da Júlia, sobrinha e afilhada de quem eu tenho um orgulho imenso por ser uma menina autêntica e com belas tiradas (já aos 6 anos recém-completados).
Tudo bem, minha condição de enferma pode ter ajudado, mas eu ainda hoje acho estranhíssimo percorrer as ruas daquela cidade e não sentir quase nada. Quase. Lembro de situações, o que vivi ali, cenas engraçadas e tal, mas saudade ? Pouca.
Almoço com minha mãe, festa da Júlia à noite, família toda, depois uma volta, ver se acontece algo (ver se a cidade consegue me convencer que pode, sim, ser bacana), Nadica. Fui comer um lanche no James, um lugar que anos atrás eu adorava, com vinis incríveis, tudo muito improvisado. Mudou quase tudo....agora muitas mesas, TV ligada, clima de pizzaria de família. Tucanaram. Fui pro Estúdio, que tem um espaço grande no meu coração. Não dei sorte também : música estranha, quase nenhum amigo das antigas (cadê o bar apertadinho, os papos no balcão ?). Estrangeira.
Mas ali todo mundo parecia estar se divertindo. Então quem mudou tanto assim, fui eu ?
Sim, tenho essa tendência, de romantizar alguns lugares, algumas épocas, algumas situações. Será que é esse o caso ?
O que eu queria ? Tudo no mesmo lugar, as mesmas pessoas ?
Impossível.....mas acho que sim, acho que queria isso.
Ver a família é um puta dum prazer, tenho saudade dos amigos, claro, mas o "pacote" é complicado pra mim.
Quase um sentimento de aversão à cidade. Não é justo. Minha família toda mora lá, cresci lá, estudei lá, trabalhei lá, conheci pessoas maravilhosas lá. Ou seja, ela me deu um bocado e agora é isso que sinto ?
É.
Não tenho aquela nostalgia gostosa. Não penso em passar férias lá. Não penso em voltar a morar, ao menos por agora.
Me acho cruel escrevendo isso, mas é a verdade.
Não é mais minha casa.
Voltando pra São Paulo, subindo a Augusta, pegando a Consolação, uma quadra do meu canto, a sensação era tão boa.
Os bares, as luzes, o movimento, tudo muito familiar. Me senti aninhada pelas ausências de SP, que se tornaram tão rotineiras pra mim.
Aqui pego trânsito, mas também tenho amigos pra toda vida. Aqui o aluguel não é o que podemos chamar de barato, mas tenho minha rede na varanda. Aqui trabalho como uma louca, mas sento tranquilamente sozinha num bar. Aqui sou anônima, choro sozinha, preparo meus jantares, caminho até a Roosevelt, carrego as sacolas do supermercado. De São Paulo não cobro tranquilidade, alamedas largas, silêncio. Aqui é minha casa, minha cidade, agora.
E só percebi isso claramente nesse fim de semana.
Estrangeira na minha terra, nativa da terra de ninguém.